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Deus constrói jardins, o homem constrói cidades



O jardim é uma feitura divina, para usufruto comum, flores para embelezar, grama para se deitar, frutos para alimento e ambiente de natural convivência. Quando Deus cria um jardim ao leste do Éden, ele apresenta também uma forma de vida ideal, onde tudo é de todos, onde não falta alimento, onde a manutenção é parte da responsabilidade humana para fins de participação. É o mesmo que colocar seu filho pequeno para ajudar nas tarefas de casa, as vezes atrapalha mais do que ajuda, porém é uma atividade pedagógica para ensiná-lo sobre seu papel na casa.


O jardim é ferramenta totalmente usável, é no jardim que se planta e espera-se de um solo que gere-se frutos, que em bom tempo dê boa semente. Porém, um ajuntamento de vegetação não caracteriza um jardim, jardim não é jardim sem a poda, é preciso de uma mão terceira intervindo para uma ação conjunta.

Pisamos na grama, subimos nas arvores, comemos do fruto e nos protegemos debaixo das ávores.


O homem constrói cidades, cidades são antítese de jardins, cidades não te permitem usá-las, mas elas que usam você. Cidades engolem os fracos, cidades não aceitam poda, pelo contrário, são os prédios que podam as ruas, as lojas que podam calçadas, carros que podam pedestres e condomínios que podam a vida em comunidade. A cidade está sempre em posição de ataque, é concorrência, poder, dinheiro e a ambição de sempre querer ser a maior.


Quanto maior a cidade, mais morte ela produz, morte dos sobrantes, dos descartados. Enquanto o jardim é sustentável, a cidade é sustentada, enquanto o jardim absorve o resto (cascas por exemplo) a cidade apodrece corpos, enquanto o jardim purifica, a cidade polui. O problema disso tudo é que nós admiramos mais as cidades, do que os jardins, pois a cidades são implacáveis, fortes e resistentes ao tempo, os jardins são sensíveis, vulneráveis, porém infinitos.

As cidades são pomposas, gigantes e quanto maior, mais filhos ela tem, o jardim não tem ambição de grandes árvores, pois é no solo que nascem suas melhores flores.


Quem nós somos, cidades ou jardins? Nós somos aqueles que usamos (cidades) ou aqueles que permitem ser usados? Nós queremos ser grandes por que? Para abraçar mais pessoas ou engolir mais pessoas? Nossa beleza está nas pequenas flores ou nos grande edifícios? Somos solo que pode ser pisado ou só investimos naquilo que nos dá retorno?


Eu sei o que é se sentir usado, eu sei o que é ser descartável, eu sei o que é ser regado por lágrimas (dos outros) e nunca receber a chuva e mesmo assim ter que produzir para matar a fome e sei também o quanto isso é desgastante. Volta e meia me pego questionando porque me permitir ser usado, mas logo entendo que ser um jardim é o propósito de Deus para mim, que as perdas são apenas a poda, que jardim que não é usado se transforma em matagal. Em toda minhas tentativas de ser cidade, me transformei em um jardim pior, hoje entendo a beleza da minha pequenez.


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