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Os Ricos e os Pobres segundo Tiago


INTRODUÇÃO

A economia é um dos principais critérios de avaliação da sociedade, fenômenos subsequentes como organização de classes, distinção social e pobreza são termos que causam bastante discussão nos meios acadêmicos e politicos. Nesse texto, não pretendo explorar toda a riqueza do livro de Tiago, como obras e fé por exemplo, mas apenas enfatizar o interesse do autor em escrever sobre os pobres para os ricos. É fundamental uma leitura desprendida de preceitos políticos contemporâneos e sensibilidade filosófica para compreender a riqueza que o autor encontra nos pobres e a pobreza que descobre nos ricos.


OS RICOS E OS POBRES SEGUNDO TIAGO

O livro de Tiago apresenta diversas citações em defesa do pobre, parece que a negligência e a diferença com que os pobres são tratados preenchem bem as linha do irmão de Jesus. Logo no primeiro capítulo da epístola de Tiago, o autor menospreza a riqueza afirmando que passará como a flor de campo e por isso devemos nos orgulhar caso venhamos a viver em condições humildes[1]. Tudo isso parece ser um grande confronto não apenas na época, mas também para nossos dias, tendo em vista que a sociedade presente tem a riqueza como critério de êxito social, esquecendo assim do exemplo de Jesus Cristo, que nasceu em berço humilde[2], viveu de maneira simples[3] e triunfou com vitória tangível: seu corpo.

Tiago chama a igreja pra uma realidade de engajamento não apenas religioso – ritualístico – mas principalmente sociopolitico, já que o grande apelo de sua carta convida os judeus cristãos de sua época para uma fé com ações. Segundo o teólogo latino-americano René Padilla a “evangelização e o envolvimento sóciopolico são ambos parte do nosso dever cristão”[4]. A palavra de Tiago parece ser desafiadora para cristãos vindos do judaísmo, que assim como todas as religiões abraamicas é forte em rituais religiosos – sacrificiais ou não – e que são usados como critério de expiação.

A barganha com os ricos e os assentos privilegiados no púpilto não são uma exclusividade da contemporaneidade, desde o primeiro século da igreja Tiago já denunciava o tratamento diferenciado aos ricos[5] e mais do que isso, ele ainda afirmava os pobres como escolhidos de Deus para uma riqueza na fé. Parece que o Espíito Santo que inspira o autor tem uma concepção diferenciada da pobreza, até porque esse mesmo Espírito inspira Lucas, o evangelista, a escrever que o Reino de Deus também pertence a esses pobres[6].

O interessante da fala de Tiago é que seu discurso não soa como algo distante de sua realidade, não parece que ele fala a respeito de uma situação fora de si, como nós fazemos, defendendo o pobre montados em nossa riqueza. O teólogo Raiumundo César Barreto Jr fala a respeito de um encontro “face a face” com o pobre como uma ferramenta pedagógica de mudança de pensamento[7]. Só mesmo quem está próximo a essa realidade, pode escrever com a propriedade que Tiago escreve.

Além da defesa do pobre, uma característica marcante nos escritos de Tiago é sua denúncia aos ricos opressores, que não pecam apenas pelo tratamento com os mais humildes, mas também, e arrisco dizer principalmente, pela forma corrupta de ganharem dinheiro. No último capitulo do livro, o autor não se omite a repreender os ricos opressores e a ridicularizar as posses ganhadas de forma ilícita e fraudulenta[8] nos chamando à reflexão da exploração disfarçada. Quantos de nós não preferimos comprar produtos mais baratos? Mesmo que isso signifique uma mão de obra mal remunerada e injusta nos colocando na posição de opressão indireta. Choramos pelas mortes esquecendo que no ciclo que a morte percorreu passou por nós a oportunidade de dizer não. Uma postura utilitarista de nossa parte, bem diferente do nosso mestre – que assim como cita o pastor e teólogo Ariovaldo Ramos – assumiu “uma postura de serviço diante da multidão” necessitada de recurso.[9]


CONCLUSÃO

Falta-nos mais sensibilidade para com os pobres, fazer uma leitura bíblica mais atenciosa com a intenção de perceber porque nosso Deus olha para os que nada tem com um olhar tão afetuoso. A ideia não é que ao lermos isso façamos melhor distinção, mas compreendamos também nossa pobreza diante de Deus e nossa pequenez diante do Cristo, a ponto de que a discriminação social torne-se algo irracional para um cristão leitor das Escrituras.

Que a cada dia tenhamos assim como Tiago, o ímpeto de denunciar a opressão, repreender as injustiças e acolher os que mais precisam, fazendo o evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo – que é salvador não só da alma, mas do todo de um homem – cada vez mais integrado com a realidade de nossa sociedade, que está longe de ser homogeneamente rica.


[1] Tiago 1:10

[2] Lucas 2:7

[3] Mateus 8:20

[4] PADILLA, René - O que é Missão Integral – Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2009.

[5] Tiago 2:1-5

[6] Lucas 6:20

[7] BARRETO JR, Raimundo César - Evangélicos e pobreza no Brasil: pistas para uma ética social - Rio de Janeiro, RJ: Novos Diálogo, 2012.

[8] Tiago 5:4

[9] RAMOS, Ariovaldo – A ação da igreja na cidade – São Paulo, SP: Hagnos, 2009.


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